“UMA NOITE, no mês de agosto, estávamos com o Mestre numa charneca perto do lago. A charneca era chamada pelos antigos Campina das Caveiras. E Jesus estava reclinado na relva e fitava as estrelas.
E, de repente, dois homens vieram correndo e chegaram, já sem fôlego, até junto de nós. Estavam como em agonia e caíram prostrados aos pés de Jesus. E Jesus levantou-se e disse-lhes: “Donde viestes?”
E um dos homens respondeu: “De Nacareus.” E Jesus olhou para ele e ficou perturbado, e disse: “Que é de João?”
E o homem disse: “Foi morto hoje. Decapitaram-no na cela da prisão.” Então Jesus ergueu a cabeça. E caminhou um pouco para longe de nós. Passado um momento, voltou para o nosso meio. E disse: “O rei poderia ter matado o profeta antes deste dia. Em verdade, o rei quis satisfazer seus súditos. Os reis de outrora não demoravam tanto em entregar a cabeça de um profeta aos caçadores de cabeças.
“Pesa-me, não por João, mas por Herodes, que deixou cair a espada. Pobre rei, qual um animal preso e levado com uma argola e uma corda. “Pobres tetrarquinhas perdidos em suas próprias trevas, como tropeçam e caem! E que tiraríeis dum mar estagnado se não peixes mortos?”
GIBRAN, Gibran Khalil. Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 79.