Reconstituição Forense

“Depois da flagelação, a condição de Jesus era relativamente grave. Ele estava prestes a sofrer um choque traumático em razão dos ferimentos causados pelas chibatadas-particularmente na caixa torácica e nos pulmões-e pelos maus-tratos anteriores, na residência de Caifás. Além disso, um quadro de hipovolemia (baixo volume de sangue) se desenvolvia por causa da baixa efusão pleural, da hematidrose, das pequenas hemorragias resultantes da flagelação, do vômito e da transpiração.

É importante notar que o brutal espancamento na caixa torácica poderia ter afetado os pulmões e ocasionado a concentração de fluido no local. O fluido, misturado ao sangue, deve ter aumentado algumas horas depois dos golpes no peito, dificultando a respiração e causando dor extrema. O termo pulmão molhado traumático refere-se a acúmulo de sangue, líquido e muco depois de um violento trauma no tórax.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 39-40.

 

Flagelação no Sudário

“As marcas em forma de haltere podem não ser evidências de machucados ou contusões, como pensam alguns, mas, sim, marcas de pequenas quebras na pele, resultando em “padrões de ferimento” muito parecidos com os que vemos na patologia forense. Esses padrões em forma de haltere no Sudário são o resultado das impressões feitas pelo sangue presente nas quebras de pele causadas pelos objetos do flagrum.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 37.

 

Flagelo Romano

“O pretório (sala de julgamento) era o local onde o pretor exercia sua função, sobre o pavimento da fortaleza romana de Antônia, localizada na “mais alta das colinas” (Flávio Josefo, A Guerra Judaíca).

(…)

Um castigo brutal e desumano, executado pelos soldados romanos, que usavam um dos mais terríveis instrumentos da época, chamado ou, nas palavras de Horácio, “o horrível flagelo”. A flagelação era um procedimento normal entre os romanos antes da crucificação. Muitos acham que no açoitamento era usado um chicote comum. De certa forma isso é correto, mas seria como comparar um choque elétrico a um raio. O flagrum era confeccionado de várias formas, sendo que a mais corriqueira era a de um chicote de couro com três ou até mais extremidades também de couro, com bolinhas de metal, ossos de carneiro (astragals) e outros objetos pendurados ao final de cada uma (Figura 2-1). Esse tipo de flagrum é o mais compatível com as descobertas relativas ao Sudário.

Figura:  2-1

O Flagrum romano. Extremidades de couro com pesos de metal em forma de haltere. Compare o formato desses pesos com as marcas de açoitamento no Sudário, na figura 2-4.

(…)

Os romanos não tinham nenhuma lei que regulamentasse o número de golpes que poderiam ser aplicados. Em compensação, era contra a Lei Mosaica exceder 40 chibatadas, e 39 era um número usualmente aplicado para estar de acordo com a lei.

A ordem de Pilatos para que Jesus fosse açoitado de forma tão extrema foi baseada em seu desejo de aplacar a multidão, pois tinha medo de que a massa o denunciasse ao imperador ou que se iniciasse uma revolução.

(…)

(…) a vitima era despida e presa pelos pulsos a um objeto fixo, com uma coluna rebaixada, forçando-a a ficar curvada, o que facilitava trabalho do carrasco. (…)  O soldado ficava de pé ao lado da prisioneiro com o flagrum na mão e, ao receber a ordem, lançava o instrumento de couro para trás das costas, girava o pulso e golpeava as costas nuas do prisioneiro como se fosse um arco. (…)  Os pedaços de metal penetravam na carne, rasgando vasos sanguíneos, nervos, músculos e pele.

Figura: 2-4

Marcas de Flagelação na parte de trás do Sudário de Turim. Relativamente bem definidas, elas correspondem aos objetos em forma de haltere do flagrum (Cortesia de Barrie Schwortz).

Você já recebeu um golpe na costela, como um soco ou uma bolada de beisebol? (…) A respiração se toma superficial, já que uma inspiração profunda provoca dor. A isso se chama tensão nos músculos.

Depois do açoitamento, aparecem no corpo da vítima enormes feridas (com matizes de preto, azul e vermelho), lacerações, arranhões e inchaço, basicamente ao redor das perfurações feitas pelo peso dos objetos ou scorpiones. (…) As vítimas esperneavam, se contorciam em agonia, caindo de joelhos, mas eram forçadas a se levantar novamente, até não poder mais. A respiração do açoitado era severamente afetada, porque os golpes no peito causavam dores excruciantes toda vez que ele tentava recuperar o fôlego. Os músculos intercostais, entre as costas e os músculos do peito, apresentavam hemorragia, e os pulmões eram lacerados, frequentemente colapsados – todos esses fatores impunham à vítima extrema dor quando tentava respirar.

(…)

Períodos de intensa transpiração ocorriam intermitentemente. A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água. A flagelação levou Jesus um prematuro estado de choque. Nas horas seguintes, houve um vagaroso acúmulo de fluido (efusão pleural) ao redor de Seus pulmões, causando dificuldades na respiração.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 32-36.

 

Conclusões

“(…) E estou longe de ter a certeza de que os sábios do porvir (não digo a Ciência, ignorando quem seja esta senhora) cheguem um dia a elucidá-los completamente.

(…)

As impressões fotográficas têm todos os caracteres de um perfeito negativo fotográfico. Ora, a própria noção do negativo era desconhecida e até inconcebível no século XIV. Até pintores modernos, tendo à sua disposição os conhecimentos da arte fotográfica, não conseguiram fazer uma cópia exata do Santo Sudário.

Não há o menor traço de pintura nem sequer nas fotografias obtidas em grandes ampliações diretas; toda a gama dos claro-escuros é obtida por simples coloração individual dos fios de linho.

Acrescentemos que o corpo e, sobretudo, a face do Santo Sudário têm um caráter impessoal, sem relação alguma com qualquer estilo pictórico. E, na realidade, nenhuma pintura do século XIV, nem se quer de longe, faz lembrar deles, nem se aproxima de sua perfeição.

(…)

(…) lembremos que o cadáver do Santo Sudário está completamente nu. Pintor algum jamais ousou representá-lo assim. E com muito mais razão, um falsário não teria tido a audácia de o fazer sobre uma mortalha que ia apresentar à veneração pública dos fiéis.

(…) as imagens sanguíneas. Notemos que parecem elas, em sua maior parte, anormais, estranhas, diferentes da iconografia tradicional, que contrariam, na maioria dos casos, Ora, a experimentação me provou que são todas elas estritamente conformes à realidade.

As chagas da flagelação têm um realismo, uma abundância, uma tal conformidade aos dados arqueológicos, que ficam em notável contraste com as pobres imaginações dos pintores de todos os tempos.

As hemorragias da coroa de espinhos e os coágulos por elas formados são de uma veracidade inimaginável. Relede a descrição de um destes coágulos frontais no capitulo IV, D.

O transporte da cruz deixou vestígios perfeitamente conformes a observação que tive ocasião de fazer in vivo.

A mão está perfurada na altura do carpo, única região onde e cravo poderia sustentar solidamente o peso do corpo. Antes do conhecimento de Santo Sudário, estava o cravo sempre localizado na palma.

O polegar está em oposição na palma. E a experiência veio provar que não poderia ficar estendido.

O sangue escorre do carpo, segundo a vertical E. descoberta de gênio para um falsário, há dois fluxos afastando-se em ângulo agudo e que é insensível quando se conhecem as alternativas de soerguimento e de abatimento na luta contra a tetania asfixiante.

A chaga do coração está colocada no lado direito. E de resto à representação mais frequente, ainda bem que corresponde à realidade!

(…)

Todas as imagens sanguíneas são portanto decalques de coágulos frescos ou amolecidos pelo vapor de água, que emana naturalmente do cadáver, durante muito tempo.

As reproduções dos coágulos são de um natural e de uma verdade surpreendentes, até em seus menores detalhes. Não são executáveis a não ser pela natureza que, tendo-os formado sobre a pele, os decalcou no tecido. São perfeitas reproduções de coágulos naturais.

A maioria dos crucificados devia ter, é verdade, quase todos estes estigmas (inclusive a flagelação regulamentar e, em certos casos, o lançaço). Mas este foi retirado de sua mortalha ao cabo de muito curto tempo: o pouco que já conhecemos sobre as impressões, nos prova que uma exposição muito prolongada, ou pelo menos a putrefação, teria diluído  e velado essas impressões negativas – Além disso, por causa de qual outro crucificado teriam conservado tão piedosamente sua mortalha?

E ainda mais, qual foi o crucificado que, sob o pretexto irónico de realeza, foi coroado de espinhos? A história só nos cita um: o dos Evangelhos.

(…)

Espero ter dado a impressão, de acordo com a realidade, que as compreendi com toda independência de espírito, com a máxima objetividade científica. Comecei as com certo ceticismo, pelo menos com uma dúvida cartesiana, para verificar as imagens do Santo Sudário; pronto para rejeitar-lhes a autenticidade se não quadrassem com a verdade anatômica.

Mas, muito pelo contrário, à medida que apareciam os fatos, vinham estes se agrupar em um feixe de provas cada vez mais convincentes. Não somente as imagens se explicavam por uma simplicidade que já lhes consagrava a veracidade, mas, quando apareciam, à primeira vista, anormais, a experiência vinha demonstrar que eram como o deviam ser, que não podiam ser diferentes, nem tais como um falsário as teria feito seguindo as tradições iconográficas correntes. A anatomia dava, portanto, seu testemunho em favor da autenticidade de pleno acordo com os textos evangélicos.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 186-191.

 

Sofrimentos Preliminares

“A) GENERALIDADES

(…) OS traumatismos produzem na pele lesões diversas, cujos vestígios no Santo Sudário diferem notavelmente segundo sua natureza profundidade.

(…)

B) SEVÍCIAS DA NOITE E DO PRETÓRIO

Sobre o rosto se encontram escoriações um pouco por toda a parte, mas sobretudo do lado direito, que está também deformado, como se, sob as esfoladuras sangrentas, houvesse também hematomas. As duas arcadas superciliares apresentar aquelas chagas contusas, que tão bem conhecemos, e que se fazem de dentro para fora, sob a influência de um soco ou paulada; os ossos da arcada cortar a pele pelo lado interno.

Mas a lesão mais evidente é uma grande escoriação de forma triangular na região suborbitária direita. A base tem dois centímetros, a ponta se dirige para cima e para dentro, para atingir outra zona escoriada no nariz entre o terço médio e o superior. Neste nível o nariz e está deformado por uma fratura da cartilagem dorsal, bem perto de sua inserção no osso nasal, que ficou intacto.

C) FLAGELAÇÃO

Já conhecemos o instrumento de suplício, o “flagrum” romano, cujas correias levavam a uma certa distância das pontas duas bolas de chumbo ou dois ossinhos, “talus” de carneiro. Seus vestígios se encontram com abundância no Sudário, e aparecem distribuídos por todo o corpo, das espáduas até as pernas. A maioria está na parte posterior, indício de que Jesus estava amarrado com o rosto contra a coluna e as mãos amarradas no alto, pois não ficaram vestígios nos antebraços, que de resto estão bem nítidos no Sudário. Não teriam deixado de receber alguns golpes se estivessem amarrados embaixo. Encontram-se também, e bem numerosos, sobre o peito.

Convém acrescentar que só deixaram marca de si os golpes que produziram escoriação ou chaga contusa. Todos os que não provocaram senão equimoses não deixaram vestígios na Mortalha. Contê-lo mais de 100, talvez 120, o que perfaz, se é que havia duas correia cerca de 60 golpes, sem contar os que não deixaram marca.

(…)

Estão quase todas dispostas em pares paralelos, o que faz supor duas correias em cada “flagrum”.

Acrescentaremos ainda que Jesus estava inteiramente nu, Pois vemos este tipo de chagas, em forma de haltere, em toda a região pelviana, tão profundas como no resto do corpo, o que não teria acontecido se estivesse coberta pelo “subligaculum”.

Por fim, notemos que os carrascos deviam ter sido dois e que eram de estatura diferente, uma vez que a obliquidade dos golpes no é a mesma dos dois lados.

D) COROAÇÃO DE ESPINHOS

Lucas não fala da coroação. Marcos escreve: “Peritithéasin autõ plléxantes akanthinon stéphanon – Cingiram-no com uma coroa de espinhos que tinham acabado de tecer” (15,17). Mas não indica com isto a forma; Mateus e João são mais explícitos: “Pléxantes stéphanon ex akathõn, epéthekan epi tês kephalês autou-Tendo tecido uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a cabeça dele” (27,29).

São Vicente de Lérins (Sermo in Parasceve) escreverá mais tarde: Impuseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, que era à maneira de ‘pileus’ (= carapuça, gorro), de sorte que por todos os lados lhe cobria e tocava a cabeça. E acrescenta que produzira essa carapuça 70 ferimentos. -O “pileus’ era, entre os romanos, uma espécie de gorro semioval, de feltro, que envolvia a cabeça e servia principalmente para o trabalho.

(…) a coroa era uma espécie de gorro, formado de ramos espinhosos entrelaçados, e não um anel.

Admite-se, geralmente, que pertencem a um arbusto de espinhos comum na Judeia, o Zizyphus Spina Christi”, uma espécie de açofeifeira (árvore da família das ramnáceas, também conhecida por jujubeira). (…) O couro cabeludo sangra muito e com facilidade; como este chapéu foi enterrado a pauladas, os ferimentos produzidos devem ter feito correr bastante sangue.

(…) Ora essa coroa não tem espinhos, é um simples círculo de juncos trançados. Mas tudo se explica perfeitamente, pois foi com esses juncos que os soldados, depois de terem aplicado o chapéu de espinhos na cabeça de Jesus, o fixaram, apertando-o na frente e na nuca.

(…)

O sangue foi obrigado a se acumular aí, lentamente, onde se pôde coagular com todo vagar, de onde a extensão em largura, o crescimento em altura e o aumento em espessura do coágulo.

Há ali um obstáculo, que está evidentemente na região onde o feixe de juncos cingia a parte inferior da testa, por cima das arcadas das sobrancelhas. Uma das hastes de junco estava transversalmente comprimida sobre a pele da testa: há ali faixa horizontal, sem coágulos, em toda a extensão da testa; à direita e à esquerda para os = lados, dois coágulos se detêm, nitidamente, no mesmo nível e bem se pode seguir em seu conjunto o trajeto da faixa.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 97-103.

 

Explicação dos Evangelhos Pela Arqueologia

“1°) A condenação- Para tal era necessário um motivo que caísse sob a legislação romana. Em Jerusalém, só Pilatos possuía o “jus gladii”, isto é, o direito de vida e de morte (…) Os motivos de ódio dos sinedritas não podiam, é claro, ser apresentados perante um funcionário romano. É por isso que, logo de início, acusam Jesus de levar o povo à revolta. (…) Três vezes repete Pilatos: “Nada encontrei nele que o faça merecer a morte”. Alegaram então os judeus que se fazia ele Filho de Deus, o que segundo sua própria lei implicava a pena de morte. Isso, porém, não comoveu o procurador; pelo contrário, o inquietou vagamente em sua alma supersticiosa. Para um pagão, “Filho de Deus é sinônimo de “herói”. (…) Não foi senão após numerosos giros e tentativas que os judeus acabaram finalmente por encontrar o motivo que forçaria Pilatos a condená-lo: “Ele se fez rei, e se tu o libertares não és ami go de César”. Astúcia verdadeiramente satânica, porque, além de incluir um capítulo de acusação regular de bastante gravidade, a “rebelião contra César“, veio perturbar profundamente a inquietude egoísta de um pobre funcionário colonial, de não vir a desgostar o governo central, e ainda o temor de vir a ser incluído em tentativa subversiva contra o imperador. (…)

O procurador vingar-se-á dos judeus escrevendo sobre o “titulus: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (…) o que escrevi, escrevi).

2º) A flagelação- (…) em São Lucas, Pilatos repete duas vezes aos judeus Fá-lo-ei, pois, castigar e o soltarei”, de onde vemos sua intenção de infligir a flagelação, como pena em si; (…) São João, sempre mais explícito quando julga conveniente completar, sem contradizer os Sinóticos, na qualidade de testemunha ocular, nos apresenta as minúcias do processo. (…) “Então Pilatos tomou Jesus e o fez flagelar (Jo 19,1). Segue-se a flagelação, a coroação de espinhos, a saída do “Ecoe homo”, a acusação de se ter feito Filho de Deus. (…)

Como se vê, a flagelação precedeu a sentença de morte e até a maior parte cio “actio” do processo (…)

4°) Transporte da cruz- (…) só carregou segundo esse mesmo costume o patíbulo, e não a cruz inteira, como o representa a maior parte dos artistas. Já vimos como a expressão “carregar a cruz”, que só se nos gregos ou latinos traduzidos do grego, era exatamente equivalente à expressão romana “carregar o patíbulo”

(…)

Depois, os soldados, percebendo que ele não conseguiria, dessa forma, chegar ao Calvário, forçaram, segundo os três Sinóticos, um o homem de Cirene a carregar a haste horizontal, ou patíbulo. (…) Somente Lucas é quem acrescenta que a levava atrás de (“opisthen) Jesus, o que quer dizer que Jesus caminhava na frente, conduzido pelos soldados, e Simão o seguia carregando sozinho o patíbulo.

(…)

Notaremos que atestam os Evangelhos não ter sido Jesus submetido ao costume romano, segundo o qual os condenados caminhavam para o suplício completamente nus. “Despiram-no da clâmide de púrpura e lhe devolveram suas vestes para o conduzir à crucifixão. Explica-se facilmente a exceção pelo hábito que tinham os romanos de respeitar os costumes locais. Flávio José escreve (Contra Appionem “Romani subjectos non cogunt patria jura transcendere -Os romanos não forçam (os povos) submetidos a transgredir as leis pátrias”.

(…)

Imagino pelourinhos de quase dois metros, o que permitia neles enganchar facilmente o patíbulo. Os pés, com facilidade, podiam ser pregados sobre o mourão (dada a flexão das coxas e pernas, que calcularemos com exatidão), a cerca de 50 cm do solo.

(…)

Convém recordar que quando apareceram os primeira crucifixos, ainda muito raros, em fins do século V (marfim do “British Museum”), século VI (Porta de Sta. Sabina, Evangeliário de Rábula já havia quase dois séculos que a crucifixão havia sido abolida por Constantino (315, o mais tardar 330), de modo que os artistas dessa época não haviam jamais visto um crucificado.

(…)

Seria realmente interessante saber como cristãos dos primeiros séculos imaginavam a cruz. Infelizmente, era esta em o mundo romano um objeto que inspirava horror acarretava tanta infâmia que ninguém ousava exibi-la, ainda olhos fiéis. Toda a catequese apostólica antes tudo uma pregação triunfante da Ressurreição. Os primeiros crucifixos (V e VI séculos) serão imagens triunfantes de Jesus Cristo vivo, colocadas diante da cruz. Somente na Idade Média é que se desenvolveria a imagem e o culto da Paixão, a ideia mística da Compaixão.

(…)

Coisa curiosa: encontra-se a mesma disposição, com a letra M, com um traço por cima: M, que todos os arqueólogos admitem como abreviação de Mártir.

7°) Estava Jesus nu sobre a cruz? -Antes de tudo, é bem evidente que, antes de o crucificarem, lhe tiraram as vestimentas, uma vez que os soldados as dividiram entre si e tiraram a sorte de sua túnica (Jo 19,23). Trata-se, pois, de saber se conservou algum pano em volta dos rins. De acordo com o citado estudo de Pe. Holzmeister, foram os Padres unânimes em afirmar essa nudez.

A esta opinião pode-se opor um texto apócrifo tirado dos “Atos  de Pilatos, segundo o qual, depois de lhe terem tirado as vestimentas, lhe teriam restituído um “lention”, palavra grega que quer dizer “pano”, uma espécie de tanga.

Seria de admirar que os romanos, que o haviam tornado a vestir, após a flagelação, para que carregasse a cruz, contrariando seus próprios costumes, a fim de condescender com as ideias judaicas de decência e respeitar as tradições nacionais, não lhe tenham deixado sobre a cruz pelo menos este último resto de indumentária.

(…)

Em todo o caso, repito: jamais artista algum quis fazer um crucificado inteiramente nu.

Ora, é justamente isto que encontramos no Sudário. Será possível que um falsário tivesse tido ideia tão fora do comum, que iria chocar violentamente todas as nossas tradições artísticas de decência e de respeito?

8°) Fixação – (…) Jesus é pregado ao patíbulo estando este deitado ao solo. Depois é erguido juntamente com este, é encostado ao “stipes”, e todo o conjunto é erguido para ser enganchado o patíbulo no alto do “stipes”.

(…)

Ora, acabam precisamente de verificar que Jesus estava visivelmente morto e, por isso, lhe poupam o “crurifragium”, que rapidamente vai acabar com os dois ladrões, precipitando-os na tetania e asfixia, como veremos mais tarde. É sobre um cadáver, já averiguado como tal, que um dos soldados vai desferir um lançaço no coração?!

A razão está em que, se é que interpretamos bem os textos legais, este ferimento do coração era o gesto regulamentar que devia o soldado fazer para entregar o corpo à sepultura.

Segundo São João, foi depois do golpe de lança que José de Arimateia foi à fortaleza Antônia pedir a Pilatos o corpo de Jesus. Mas, desde que chegaram ao Calvário, todo o pelotão via muito bem aquele grupo de certa importância, além de “numerosas mulheres”, conforme acrescenta Marcos depois de sua enumeração nominal, que cercava Maria e João, sendo estes visivelmente os membros da família. Se todas estas pessoas se mantiveram inicialmente ao longe (“apo makrothen”), por fora do círculo das sentinelas, devem ter se aproximado após a partida dos judeus insolentes. A prova disto está nas palavras de Jesus a sua Mãe e ao discípulo amado. Talvez, até, os soldados os tivessem ouvido manifestar a intenção de pedir o corpo. Em todo o caso, era evidente que o fariam. Uma vez verificada a morte, o golpe de lança se tornava um gesto natural e favorável para preparara entrega do corpo de acordo com o regulamento. Confesso, com franqueza, que esta ideia me conforta e me faz compreender melhor.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 65-80.

 

Modalidades da Crucifixão

“C) MODALIDADES DA CRUCIFIXÃO

(…)

1°) Flagelação preliminar – Todo o condenado à morte devia ser, por lei, flagelado preliminarmente, quer fosse a execução feita pela cruz quer de outro modo: decapitação (Tito Lívio) ou fogo (Flávio José). Dela estavam isentos, segundo Mommsen, somente os senadores, os soldados e as mulheres que gozassem do direito de cidadania.

(…)

Esta flagelação, que primitivamente era aplicada sobre a cruz, passou, com o tempo, a ser aplicada no próprio local do tribunal. O condenado era ali atado a uma coluna (provavelmente com as mãos amarradas por sobre a cabeça. É a melhor maneira de imobilizar o condenado que não repousa senão sobre as pontas dos pés).

(…)

Despia-se o condenado para a flagelação. Era nu e flagelado que encetava sua marcha para o suplício, carregando seu patíbulo (Valério Máximo, Cícero).

(…) a flagelação necessitava o “flagrum”, instrumento especificamente romano. Compunha-se de um cabo curto ao qual estavam fixados grossos e compridos látegos, geralmente dois. A pequena distância de sua extremidade livre, estavam inseridas pequenas esferas de chumbo ou ossos de carneiro “tali”, como os que serviam para jogar “ossinhos”, que eram os astrágalos tirados das patas do carneiro.

Os látegos cortavam mais ou menos a pele, e as balas ou os ossinhos nela imprimiam profundas contusões. De onde se seguia uma hemorragia nada desprezível e um enfraquecimento considerável da resistência vital.

O número de golpes com o açoite era, segundo o direito judeu, rigorosamente limitado a 40. (…) Entre os romanos, a lei não conhecia outro limite senão a necessidade de não matar o condenado sob os golpes; era ainda necessário que ficasse com forças suficientes para carregar seu patíbulo e que morresse sobre a cruz (…)

2°) Carregamento da cruz – Portanto, o prévia e devidamente flagelado, fazia a pé, sem roupas e carregando seu patíbulo, o trajeto do tribunal ao local do suplício (…)

(…)  se encontra a expressão “patibulum ferre- carregar ou levar o patíbulo”. (…) O patíbulo era colocado sobre as espáduas e braços estendidos transversalmente, e em seguida amarrado nas mãos, braços e peito. Era, portanto, só o patíbulo que o condenado carregava.

(…)

O patíbulo sozinho devia pesar cerca de 50 quilos, e a cruz inteira devia ultrapassar os cem quilos. (…) o que carregava a cruz era precedido pelo “titulus”, um pedaço de madeira sobre o qual estava escrito o nome do réu e o crime pelo qual fora condenado. O título era, depois, fixado sobre a cruz.

3°) Modo da crucifixão- (…) Se, porém, a crucifixão for feita com cravos, é necessário desamarrar o condenado e deitá-lo por terra com as espáduas sobre o patíbulo, puxar-lhe as mãos e cravá-las sobre as extremidades do patíbulo. Depois é que será levantado o réu já pregado no patíbulo, e este será enganchado no alto do “stipes” (ou haste vertical). Isto feito, nada mais resta, senão pregar-lhe os pés diretamente sobre o “stipes”.

4°) Guarda militar – Toda execução se devia fazer legalmente com um aparato inteiramente militar, sob as ordens de um centurião (…) O exército, que já se havia encarregado da flagelação, fornecida a escola para conduzir o condenado do tribunal ao lugar do suplício. Era ainda da escolta que se recrutavam os carrascos para a crucifixão. Devia, por fim, o exército regular fornecer uma guarda que velasse ao pé da cruz a fim de impedir que amigos viessem arrebatar o supliciados à cruz.

(…)

5°) Sepultura e insepulturaEm geral, os cadáveres ficavam na cruz para servir de pasto às aves e animais selvagens.

(…)

No entanto, os corpos podiam ser reclamados pelas famílias que quisessem assegurar-lhes uma sepultura decente, parece até que a lei facilitava sem dificuldades nem taxas esta última graça.

(…)

Assim pois, quando a família pedia o cadáver, o carrasco devia antes de tudo ferir o coração. Como geralmente o carrasco era um soldado, o golpe devia ser executado com a arma que tinha em mão, uma lança ou um dardo. Veremos que esse golpe no coração dado pelo lado direito do peito estava certamente bem estudado e conheci do como infalivelmente mortal, na esgrima dos exércitos romanos Dava, pois, toda segurança sobre a morte real do condenado… e, se fosse o caso, a provocaria.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 58-64.

 

Coincidências

“Vale a pena enumerar sucintamente as coincidências existentes entre o homem do Sudário e Jesus de Nazaré:

1. A partir do séc. VII, passa-se a adotar na arte religiosa um único modelo para representar Jesus, no qual se distinguem pelo menos 15 detalhes que se encontram na figura do Sudário.

2. A figura estampada no lençol representa um semita com barba e cabelo comprido e entrançado, como se usava na Palestina no tempo de Cristo.

3. A brutal flagelação, insólita em condena dos à crucifixão, executada com o flagrum romano; este castigo não era aplicado aos cidadãos romanos.

4. A coroação de espinhos, circunstância igualmente insólita.

5. O homem do Sudário não foi despido até o lugar da execução, o que também não era usual.

6. As pernas não foram quebradas, ao contrário do que se fazia nos casos de crucifixão, para apressar a morte do condenado.

7. Uma lança de forma igual à que usavam soldados romanos atravessa o lado direito, após a morte.

8. O crucificado não foi enterrado na vala comum, mas sepultado individualmente e com uma peça de linho cara.

9. Foi sepultado cuidadosamente, mas não lhe lavaram o corpo.

10. O cadáver abandonou o lençol fúnebre antes de entrar em decomposição.

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 54-55.

Coincidências

“No nariz, nota-se uma dupla ferida, assim como uma deformação da borda, ocasionada provavelmente por uma ruptura ou deslocamento da parte cartilaginosa (fig. 9). Os joelhos, por sua vez, revelam cortes e escoriações. O esquerdo apresenta uma ferida maior.

É muito provável que uma queda de bruços tenha provocado essas lesões. Imaginemos as condições em que o homem do Sudário foi levado ao local do suplício: com as mãos atadas ao travessão horizontal da cruz; extremamente debilitado em consequência da flagelação, dos socos e pontapés, etc.; vestido com uma túnica em que era fácil ter pisado, na posição inclina da que o peso da cruz o obrigava a adotar.”

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 39.

Testemunho da Morte

“O quarto evangelista, São João, que foi testemunha ocular, relata que, depois de Jesus ter morrido, um soldado romano lhe atravessou o peito com uma lança para certificar-se de que à estava morto e não era preciso apressar-lhe a morte: Chegando a Jesus, como o viram já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados atravessou-lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. E o Apóstolo acrescenta solenemente: Aquele que o viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que diz a verdade, para que todos vos creiais (Jo 19, 30-35).

(…)

A ferida tem 4 cm – largura máxima das lanças romanas – e atingiu o hemitórax entre a 5ª e a 6ª costelas, a 13 cm do esterno. (…) Por outro lado, há indícios de que o sangue saiu sem força, o que da a entender que o coração já estava parado.

Sobre o tecido, vê-se uma dupla mancha: uma de sangue e outra, quase incolor, que se tornou bem visível quando se usaram raios ultravioletas na observação (fig. 8). Os dois líquidos correram abundantemente até formarem uma espécie de círculo em torno dos rins (fig. 4).

Como vimos, o quarto evangelista afirma que da ferida saiu imediatamente sangue e água. (…). Quanto ao que São João chama água e que corresponderia à mancha in color observada no pano, é muito provavelmente uma mistura de soro sanguíneo – resultante dos hematomas e de líquido pericárdico, situado dentro do saco pericárdico que envolve o coração. Este líquido é tanto mais abundante quanto maior e mais abundante for o sofrimento da pessoa; constitui até uma prova usada em medicina legal para saber se a vítima foi seviciada antes de morrer.”

ESPINOSA, Jaime. O Santo Sudário. São Paulo: Quadrante, 2017, pág. 36-38.