Restauração- Sudário

“Em junho e julho de 2002, uma completa restauração do Sudário, batizada pelas autoridades de Turim como o Programa de Conservação, foi realizada conforme recomendações da Comissão de Preservação do Sudário.(…) Essa proposta foi apresentada ao cardeal Poletto, curador papal do Sudário, que o examinou e enviou para o cardeal Soldano, o Secretário de Estado do Vaticano, que por sua vez o submeteu 20 Papa João Paulo II, que concedeu sua permissão.

A restauração foi secretamente efetivada dos dias 20 de junho a 22 de julho de 2002, na nova Sacristia da Catedral de Turim, construída depois do incêndio de 1997. O leito no qual o Sudário se encontrava foi preparado numa mesa móvel, para ser levado à nova sacristia. O novo revestimento foi colocado no leito Bodino, o qual foi equipado com uma tampa de vidro para facilitar a operação de costura, e o revestimento foi estendido, com o Sudário por cima. Um videomicroscópio com poder de ampliação de 80x a 450x foi preparado a fim de garantir aos artesãos uma visão direta, para que pudessem distinguir entre poluentes, resquícios de sangue etc. Um suave aspirador, um vaporizador ultrassônico e pesos de chumbo foram para suavizar os vincos. A restauração foi executada pela dra. Mechthild Flury-Lemberg, ex-curadora do Museu Têxtil da Fundação Abegg e da Escola de Restauração de Riggisberg, Suíça, e principal autoridade no que diz respeito à parte têxtil do Sudário, acompanhada por sua ex-estudante Irene Tomedi, na Sacristia da Catedral de Turim.

A restauração procedeu da seguinte forma: depois que as fotos iniciais foram tiradas, os trinta remendos que foram costurados pelas Pobres Claras em 1534 e, mais tarde, por outros restauradores, foram removidos, etiquetados e conservados. Em seguida, foi removida a Vestimenta Holandesa (revestimento traseiro). Os vincos da parte traseira da peça foram esticados. Na frente, restos carbonizados foram removidos com leves raspagens. Pesos de chumbo foram colocados para alisar as dobras. Eles removeram as partículas de carbono dos buracos produzidos pelo fogo e repetiram o processo depois de rasparem gentilmente as pontas soltas dos buracos com espátulas. Depositaram, então, essas partículas em numerosos tubos de vidro, que foram sistematicamente rotulados e mapeados conforme sua localização no Sudário. Depois da remoção do revestimento traseiro, a operação incluiu a varredura digital de toda a extensão do Sudário, frente e verso, fotografias convencionais e digitais da frente da peça, além de fotos tradicionais da parte de trás. Eles também tiraram fotografias fluorescentes, colheram amostras por meio de fitas adesivas aplicadas na parte de trás da vestimenta, deram início à espectroscopia Raman e a medidas fluorescentes e de refletância, tomaram medidas precisas do Sudário e colocaram uma nova Vestimenta Holandesa, usando fios de seda para firmar cada buraco de queimadura na peça. A Vestimenta Holandesa era uma peça de linho rústico que tinha sido adquirida havia 50 anos pelo pai da dra. Mechthild Flury-Lemberg, e foi meticulosamente lavada para que fosse amaciada e desinfetada. Depois da restauração, medidas oficiais do Sudário foram novamente tiradas por Bruno Barberis e Gian Maria Zaccone, na posição de exposição (imagem frontal à esquerda e dorsal à direita). Houve um significativo aumento no comprimento comparação com as medidas oficiais feitas pelos mesmos cientistas e na largura em em antes da restauração. O comprimento da parte de baixo a mede 441,5 centímetros (14,4848 pés): a parte de cima, 434,5 centímetros (14,2552 pés), o lado esquerdo (altura) mediu 113,0 centímetros (37073 pés) e o lado direito mediu 113,7 centímetros (37303 pés). Isso é razoável, porque as medidas podem variar por causa da tensão da roupa e dos procedimentos de esticamento que foram utilizados. Um exame da parte de trás do Sudário foi conduzido para determinar s se uma imagem dupla do corpo estava presente. A imagem principal do corpo não apareceu, embora houvesse uma imagem compatível com o cabelo particularmente os dois cachos laterais emoldurando o rosto. As bandas de cor discutidas anteriormente também são notadas na parte de tris do Sudário. Porém, a presença de sangue – correspondente em sua maioria à parte da frente do Sudário-vazou para a parte de trás, embora algum sangue presente na frente do Sudário estivesse essencialmente ausente na parte de trás. Alguns pequenos segmentos do “3” reverso também estavam ausentes, Isso foi condizente com as observações dos estudos do STURP feitos em 1978, nos quais o sangue foi percebido na parte de trás do Sudário mas nenhuma imagem definida do corpo estava presente.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 218-233.

Descrição do Sudário – Médico Legista

“O Sudário de Turim (Sindone, italiano ou Linceul, em francês) é um lençol de linho longo e desigual que exibe uma desconcertante imagem, frente e costas, de um indivíduo crucificado, a qual se acredita ser a de Jesus (Figura 12-1)

Figura: 12-1

Sudário de Turim (a) Frente, (b) Verso. O sudário como se fosse visto por meio de um negativo fotográfico. (Cortesia Barrie Schwortz).”

Shroud.com

As imagens da frente e das costas estão presentes porque o individuo crucificado foi deitado na extremidade de um longo e desigual lençol de linho que foi estendido no chão. A extremidade oposta do Sudário, então, foi passada por cima de sua cabeça, cobrindo o rosto e a parte da frente do corpo, como mostrado na pintura de G. Clovio, que foi reproduzida por G. B. della Rovere e agora está exposta na Galeria Sabauda (Figura 12-2).

Figura: 12-2

(…)

Pregado a todo o verso do Sudário encontra-se um revestimento de linho conhecido como Vestimenta Holandesa, que foi meticulosamente cerzido pelas freiras Pobres Claras depois do incêndio de 1532, em Chambéry, para dar suporte ao Sudário danificado.

O corpo no Sudário está nu e o homem é barbado e tem cabelo longo, com uma imagem nas costas que lembra um rabo (Figura 12-4).

Figura 12-4

Sudário de Turim, parte traseira, mostrando a parte de trás da cabeça. A visão do Sudário como você s observaria. Existem mais de 100 marcas de açoitamento, a maioria em formato de haltere. O padrão sugere fato de os soldados terem mudado de posição da o açoitamento. Filetes de sangue da coroa de espinhos são vividamente percebidos. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

Na visão frontal, a área da testa mostra uma marca em forma de um “3” reverso no centro, com outros pequenos rastros no lado direito e esquerdo da testa e no cabelo, todos representando o sangramento causado pela coroa de espinhos (Figura 12-5).

Estudos feitos por Adler indicaram que a cor vermelha vista na microscopia é compatível com alguém que foi vítima de um trauma grave, devido aos produtos provenientes da decomposição dos glóbulos vermelhos, a saber, bilirrubina. (…) Sob fotografia ultravioleta fluorescente, todos os ferimentos mostram em torno de si um anel de retração de soro de albumina que seria completamente desconhecido para um falsificador. É importante notar que nenhuma imagem está presente onde existe sangue, indicando que a formação da imagem ocorreu depois que ele manchou o local, que a presença do sangue impediu a formação de imagem nessas áreas. (…) Nenhuma imagem estava presente nas fibras que continham sangue. Se isso fosse feito por mãos humanas, o artista teria que pintar todas as manchas de sangue com os halos de albumina nos ferimentos e fluxos de sangue, incluindo o sangue das marcas de açoitamento, usando sangue humano, e então pintar a imagem do corpo em torno delas, em suas localizações exatas, e eliminar imagens onde existisse sangue. Um processo complicado, sem dúvida.

O cabelo na imagem frontal está na frente e cobre as orelhas. É por isso, obviamente, que Lavoie acha que o homem do Sudário estava de pé quando a imagem se fez. Todavia, a explicação mais óbvia é que a cabeça estava curvada para a frente, porque não há espaço discernível referente ao pescoço, em razão da suspensão dos ombros, com a cabeça presa entre eles e dobrada para a frente. (…) Outra possível explicação para essa posição do cabelo vem do fato de que ele ficou saturado com o sangue, e a subsequente secagem das fibras capilares fixou-o nos dois lados do rosto, que um spray para cabelo o mantém rígido. Existe uma suspensão do mesma forma peito, que também é consistente com o rigor mortis que ocorreu durante 1 crucificação (Figura 12-6). A parte de trás da cabeça também está saturada com sangue (Figura 12-4). As sobrancelhas parecem estar inchadas e há um indício de que os cílios estejam cortados. A área abaixo do olho direito parece inchada, assim como a ponte do nariz, com uma linha na extremidade distal da ponte que é consistente com um deslocamento do osso ou da cartilagem, mas não uma fratura. Isso é confirmado por ampliação de imagem computadorizada VP-8, que mostra uma depressão na junção do osso/cartilagem (veja a Figura 15-2).

Figura: 12-6

O Sudário de Turim, visão frontal, abaixo dos ombros. A visão do sudário como você iria observar. Note o padrão de bifurcação no pulso. O  ferimento do peito na parte superior direita (à esquerda do remendo triangular) na verdade está no lado direito do peito. (Cortesia de Barrie Schwortz.)

As mãos estão cruzadas na região umbilical, no nível do quadril, a esquerda em cima da direita (lembre-se: os braços parecem estar rígidos, e as mãos cruzadas e a posição dos pés sugerem que eles estavam atados (veja as Figuras 12-1 e 12-6). Uma imagem bifurcada de coloração avermelhada está presente na mão esquerda, entre o pulso e a mão propriamente dita, representando o ferimento produzido pelo prego, Faltam ambos os polegares.

O lado direito do corpo contém uma imagem grande e avermelhada na região correspondente ao sexto espaço intercostal, representando o ferimento provocado pela lança. Ela se estende ao longo da lateral até as costas e contém uma separação de soro (veja as Figuras 12-4 e 12-6).

As costas, nádegas, pernas, peito e abdômen mostram evidências de bem delineadas marcas de açoitamento, muitas das quais se assemelhando a imagens em forma de haltere (veja as Figuras 12-4 e 12-6). (…) O ombro direito está mais baixo que o esquerdo, e imagens da região da escápula esquerda (lâmina do ombro) e do ombro direito sugere escoriações, que alguns investigadores acreditam estar relacionadas ao ato de carregar a cruz.

Há indicação de uma grande escoriação ou contusão na região do joelho esquerdo. As panturrilhas mostram um arredondamento natural. Um pé parece estar virado em direção ao outro. A área do pé revela a sola direita e o calcanhar, o que é indicativo de que os joelhos foram dobrados. (…) Somente o calcanhar esquerdo e várias imagens correspondendo à cravação estão presentes. A ausência de um pé parece ter sido causada pela intrincada forma como a vestimenta foi dobrada sobre ele.

Existem duas impressões lineares escuras com interrupções nos dois lados do Sudário, com quatro pares duplos de remendos brancos triangulares, que são os locais dos buracos de queimadura que foram meticulosamente reparados pelas Freiras Pobres Claras sob ordem de Carlos III, o Duque de Savoy, dois anos depois do incêndio que aconteceu na sacristia da Santa Capela de Chambéry, no dia 3 de dezembro de 1532.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 218-227.

Sudário de Turim – Médico Legista

“A prática de fornecer e regurgitar fatos sem substância cria empecilhos para os argumentos a favor da autenticidade, pois diluem a informação factual, e eles são tão amplamente disseminados que os não iniciados se tornam vítimas de “lavagem cerebral”. (…)  sindonologia (estudo do Sudário) (…)

(…)

Sempre houve aqueles que acreditam e os que não acreditam, mas a batalha entre eles nunca foi tão furiosa quanto no período depois do dia 13 de outubro de 1988, quando o Sudário foi testado com o carbono 14 por três renomados laboratórios e o teste indicou que a peça datava da Idade Media, entre os anos 1260 e 1390 d.C. Os resultados foram subsequentemente publicados por Damon et al. em 1989, no Jornal Nature (vol. 337:611-615, 1989).

(…) os estudos mais sofisticados realizados por experts de renome de várias disciplinas da ciência, usando equipamentos de última geração e métodos modernos, não conseguiram explicar os mecanismos pelos quais a imagem foi criada (in statu nascenti), e todas as tentativas de reproduzi-la resultaram em fracassos retumbantes.

(…)

Os últimos dois dias da exposição foram reservados para a Segunda Conferencia Científica Internacional de Sindonologia, da qual eu tive o privilégio de participar. (…) Cientistas interessados no assunto vieram de todas as partes do mundo, representando as áreas da patologia, biologia, eletrônica, física termonuclear, palinologia, criminologia, anatomia, cirurgia, computação, arqueologia têxtil, história da arte, radiologia, química e física nuclear. Eles estavam lá para apresentar suas descobertas, trocar novas ideias e discutir recentes progressos.

A semana que se seguiu à conferência foi reservada para 120 horas de estudos científicos do Sudário realizados pelo Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim (STURP) e outras entidades. As atividades incluíram espectroscopia no visível, ultravioleta e de infravermelho; microscopia leve, ultravioleta, fluorescente e de fase; termografia infravermelha; radiografia; microscopia eletrônica; análise computadorizada; análise de imagem fotográfica com filmes especiais; análise microquítimica etc.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 212-217.

Flagelação no Sudário

“As marcas em forma de haltere podem não ser evidências de machucados ou contusões, como pensam alguns, mas, sim, marcas de pequenas quebras na pele, resultando em “padrões de ferimento” muito parecidos com os que vemos na patologia forense. Esses padrões em forma de haltere no Sudário são o resultado das impressões feitas pelo sangue presente nas quebras de pele causadas pelos objetos do flagrum.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 37.

 

Reconstrução Forense do Sudário

“Jesus passou por violento sofrimento físico durante o Caminho da Cruz, mas que Ele também foi vítima de extrema angústia mental, que drenou e debilitou Sua força física, até o ponto de total exaustão.

(…) Os efeitos da hematidrose e da profunda ansiedade a ela associada são fraqueza geral, depressão, pequena ou moderada desidratação e discreta hipovolemia (baixo volume sanguíneo e de fluido) devidos ao suor e perda de sangue – tudo isso deve ter enfraquecido Jesus antes de Sua crucificação.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 29.

 

Conclusões

“(…) E estou longe de ter a certeza de que os sábios do porvir (não digo a Ciência, ignorando quem seja esta senhora) cheguem um dia a elucidá-los completamente.

(…)

As impressões fotográficas têm todos os caracteres de um perfeito negativo fotográfico. Ora, a própria noção do negativo era desconhecida e até inconcebível no século XIV. Até pintores modernos, tendo à sua disposição os conhecimentos da arte fotográfica, não conseguiram fazer uma cópia exata do Santo Sudário.

Não há o menor traço de pintura nem sequer nas fotografias obtidas em grandes ampliações diretas; toda a gama dos claro-escuros é obtida por simples coloração individual dos fios de linho.

Acrescentemos que o corpo e, sobretudo, a face do Santo Sudário têm um caráter impessoal, sem relação alguma com qualquer estilo pictórico. E, na realidade, nenhuma pintura do século XIV, nem se quer de longe, faz lembrar deles, nem se aproxima de sua perfeição.

(…)

(…) lembremos que o cadáver do Santo Sudário está completamente nu. Pintor algum jamais ousou representá-lo assim. E com muito mais razão, um falsário não teria tido a audácia de o fazer sobre uma mortalha que ia apresentar à veneração pública dos fiéis.

(…) as imagens sanguíneas. Notemos que parecem elas, em sua maior parte, anormais, estranhas, diferentes da iconografia tradicional, que contrariam, na maioria dos casos, Ora, a experimentação me provou que são todas elas estritamente conformes à realidade.

As chagas da flagelação têm um realismo, uma abundância, uma tal conformidade aos dados arqueológicos, que ficam em notável contraste com as pobres imaginações dos pintores de todos os tempos.

As hemorragias da coroa de espinhos e os coágulos por elas formados são de uma veracidade inimaginável. Relede a descrição de um destes coágulos frontais no capitulo IV, D.

O transporte da cruz deixou vestígios perfeitamente conformes a observação que tive ocasião de fazer in vivo.

A mão está perfurada na altura do carpo, única região onde e cravo poderia sustentar solidamente o peso do corpo. Antes do conhecimento de Santo Sudário, estava o cravo sempre localizado na palma.

O polegar está em oposição na palma. E a experiência veio provar que não poderia ficar estendido.

O sangue escorre do carpo, segundo a vertical E. descoberta de gênio para um falsário, há dois fluxos afastando-se em ângulo agudo e que é insensível quando se conhecem as alternativas de soerguimento e de abatimento na luta contra a tetania asfixiante.

A chaga do coração está colocada no lado direito. E de resto à representação mais frequente, ainda bem que corresponde à realidade!

(…)

Todas as imagens sanguíneas são portanto decalques de coágulos frescos ou amolecidos pelo vapor de água, que emana naturalmente do cadáver, durante muito tempo.

As reproduções dos coágulos são de um natural e de uma verdade surpreendentes, até em seus menores detalhes. Não são executáveis a não ser pela natureza que, tendo-os formado sobre a pele, os decalcou no tecido. São perfeitas reproduções de coágulos naturais.

A maioria dos crucificados devia ter, é verdade, quase todos estes estigmas (inclusive a flagelação regulamentar e, em certos casos, o lançaço). Mas este foi retirado de sua mortalha ao cabo de muito curto tempo: o pouco que já conhecemos sobre as impressões, nos prova que uma exposição muito prolongada, ou pelo menos a putrefação, teria diluído  e velado essas impressões negativas – Além disso, por causa de qual outro crucificado teriam conservado tão piedosamente sua mortalha?

E ainda mais, qual foi o crucificado que, sob o pretexto irónico de realeza, foi coroado de espinhos? A história só nos cita um: o dos Evangelhos.

(…)

Espero ter dado a impressão, de acordo com a realidade, que as compreendi com toda independência de espírito, com a máxima objetividade científica. Comecei as com certo ceticismo, pelo menos com uma dúvida cartesiana, para verificar as imagens do Santo Sudário; pronto para rejeitar-lhes a autenticidade se não quadrassem com a verdade anatômica.

Mas, muito pelo contrário, à medida que apareciam os fatos, vinham estes se agrupar em um feixe de provas cada vez mais convincentes. Não somente as imagens se explicavam por uma simplicidade que já lhes consagrava a veracidade, mas, quando apareciam, à primeira vista, anormais, a experiência vinha demonstrar que eram como o deviam ser, que não podiam ser diferentes, nem tais como um falsário as teria feito seguindo as tradições iconográficas correntes. A anatomia dava, portanto, seu testemunho em favor da autenticidade de pleno acordo com os textos evangélicos.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 186-191.

 

Descida da Cruz

“O Corpo de Jesus foi transportado horizontalmente, mas tal qual se achava na cruz, até a proximidade do túmulo; somente ali é que foi depositado na Mortalha.

(…) se as coisas se tivessem passado de outra forma, a parte posterior do Sudário teria ficado inundada de sangue durante o transporte.

A maior parte do sangue se perdeu (…) Dele não restou senão o que se coagulou sobre a pele, pouco a pouco, enquanto escorria. Depois que o corpo foi assim transportado nu e colocado, após o transporte, na Mortalha, recebeu unicamente a impressão dos coágulos de sangue, forma dos sobre a pele das costas durante o trajeto.

De que maneira então foi Jesus Cristo transportado sem que lhe tocassem o corpo?

Sobreveio a morte, como propôs Dr. Le Bec e como confirmou, por observação experimental, Dr. Hynek, após contrações tetânicas de todos os músculos. Essas dolorosas cãibras generalizadas constituem aquilo que chamamos de tetania. Esta nada tem a ver (insisto para os não médicos) com o tétano, doença infecciosa que produz cãibras análogas. Essa tetanização acabou por atingir os músculos respiratórios, de onde a asfixia e a morte. O condenado não podia escapar à asfixia senão erguendo-se sobre os cravos dos pés, para diminuir a tração do corpo sobre as mãos; cada vez que quisesse respirar mais livremente ou falar, deveria ele assim se erguer sobre os cravos dos pés, é verdade que à custa de outros sofrimentos.

(…)

Vimos, além disso, que o duplo fluxo de sangue do punho cor responde a esta dupla posição, alternante, com suas duas angulações um pouco divergentes. Nestas condições a rigidez cadavérica deveria ser extrema, como com os doentes que vêm a morrer de tétano: o corpo estava rígido, fixado na posição da crucifixão. Podia ser levantado sem que se dobrasse, seguro apenas pelas duas extremidades, como um corpo em catalepsia.

Dado isto, é possível: a) despregar os pés arrancando os cravos do stipes; b) abaixar o patibulum com o corpo rígido; c) transportar o conjunto sem nenhum artifício: dois homens sustentando as duas extremidades do patíbulo e um outro sustentando os pés, ou até só o pé direito que ficara por trás, na altura do tendão-de-Aquiles e do calcanhar. Esta do corpo foi assim a única tocada durante o transporte.

3.- Ora, na impressão do pé direito sobre o Sudário, verifica-se precisamente: a) que a parte posterior do calcanhar está mal marcada, o que contrasta com o resto da impressão plantar, bastante nítida; isto faz parecer, à primeira vista (como já o notamos), que o pé é mais curto do que na realidade; b) que o fluxo de sangue que desceu, durante o transporte horizontal, da chaga plantar para o calcanhar, não atingiu a parte posterior deste, parte mal-marcada no Sudário. Explica-se isto, facilmente, se esta parte estivesse de fato coberta pelas mãos do transportador, que sujaram o calcanhar e impediram o sangue de correr até lá.

É provável que tivessem sido cinco os transportadores, e não três para carregar aquele corpo de cerca de 80 quilos e o pesado patíbulo que pesava não menos de 50 quilos. Os dois suplementares sustentavam o tronco, por meio de um pano torcido para formar uma cinta, que atravessaram por sob a parte inferior do tórax, na altura dos rins,

(…) O fluxo de sangue que se coagulou, transversalmente nas costas, está constituído por meandros irregulares, várias vezes bifurcados e depois se reunindo de novo, o que está pouco de acordo com um fluxo regular de sangue que não tenha tocado em coisa alguma, 3º- Ao contrário, um pedaço de pano irregularmente torcido, sustentando a parte inferior do tórax, deve necessariamente ter-se impregnado completamente de sangue durante o transporte; do qual pequena parte se coagulou, irregularmente, à superfície da pele que podia atingir diretamente, através das pregas do tecido, nos pontos em que este não a comprimia.

A rigidez cadavérica, que permitiu que se transportasse o corpo sem que se dobrasse sob a influência de seu peso, não é um obstáculo que impeça estando o cadáver colocado na Mortalha despregadas as mãos e retirado o patibulumque se levassem os braços da abdução para a adução, e se cruzassem as mãos diante do púbis A experiência nos mostra que não há rigidez cadavérica que não se consiga vencer com um pouco de força, ainda que tenha sido bastante intensa para resistir ao peso do corpo.

1) Os pés são despregados do “stipes”, havendo um só crave a arrancar da madeira.

2) Abaixa-se o patíbulo com o corpo, sem despregar as mor O conjunto é transportado em bloco, sem nenhum artificio, por cinco carregadores, dos quais só um toca o corpo na altura dos calcanhares; outros dois sustentam o dorso com um pano enrolado para uma cinta, que se impregna de sangue. Os dois últimos levam as extremidades do patíbulo.

3) O corpo só foi colocado no Sudário no fim do transporte, durante o qual uma pequena pane do sangue se coagulou transversalmente, nas pregas da cinta, sobre a pele das costas. Esses coágulos em forma de meandros irregulares darão lugar ao “fluxo transversal posterior” ao se decalcarem, ainda frescos, sobre o Sudário.

4) Colocam o corpo no Sudário (provavelmente sobre a pedra chamada da unção). No último instante devem ter cessado de sustentar o dorso com a cinta que, embebida de sangue, teria manchado muito o Sudário.

5) Despregam as mãos, retiram o patíbulo e puxam os membros superiores, cruzando as mãos diante do púbis.

6) Dobram em seguida a outra metade do Sudário, por cima da cabeça (“epi ten kephalen”), cobrindo a face anterior do corpo.

7) Deposição no túmulo.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 158-161.

 

Chagas dos Pés

“Vê-se logo na imagem posterior do Sudário que os dois pés estão cruzados. O direito marcou uma impressão total, à qual voltaremos em breve. Do esquerdo vê-se o calcanhar e a parte média; mas se introduz obliquamente por trás do direito (portanto, na cruz, estava na frente), cruzando seu bordo interno, e sua parte anterior não é visível.

(…) O que complica as imagens são os fluxos de sangue que se espalham sobre quase todo o comprimento dos dois pés, para a frente e para trás dos orifícios dos cravos, e ultrapassam as impressões. Parece certo que o sangue, que deslizara em direção aos dedos sobre a cruz, continuou a escorrer, mas, durante o transporte ao túmulo, em direção dos calcanhares, pela posição horizontal em que era levado o corpo. Uma parte formou, na metade posterior da sola dos pés, coágulos que ficaram decalcados. Mas uma parte deve ter continuado a escorrer, até na Mortalha, por fora do calcanhar. Além disso, o tecido se dobrara em pregas longitudinais, de sorte que certos coágulos frescos e sangue líquido transudaram sobre a face oposta da prega.

(…)

(…) ainda no sepulcro os pés ficaram parcialmente cruzados. Dado o que sabemos sobre a rigidez cadavérica, significa isto que estavam ainda mais cruzados na cruz, o esquerdo sobre o direito, com sua sola repousando no dorso do direito. Quando despregados, e a corpo estendido, tenderam pela força da gravidade a voltar à paralela, mas a rigidez ainda os conservou um tanto cruzados.

A rigidez cadavérica foi certamente rápida e considerável, provavelmente instantânea, em consequência das fadigas da agonia de Jesus e suas contrações.

Essa hiperextensão, devida ao fato de terem sido os pés cravados de cheio sobre o ramo vertical da cruz, facilitou bastante a formação da bela impressão plantar do pé direito que naturalmente repousa sobre o Sudário.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 129-130.

 

Causas da Morte Rápida

“A) CAUSAS PREPARATÓRIAS

Jesus, com efeito, não tivera senão cerca de três horas de agonia, o que é, realmente, muito pouco para um crucificado. Os ladrões sobreviveram e só vieram a morrer logo depois, porque, ao lhes quebrarem as pernas, lhes aceleraram a asfixia. Tinham os judeus pedido isso a Pilatos, por quererem enterrar os três corpos antes do anoitecer. A lei judaica mandava que os crucificados fossem retirados da cruz e sepultados no mesmo dia. A isto acrescia que era véspera do sábado e, mais ainda, véspera da grande festa de Páscoa. Era a “paraskeue”.

(…) Não era raro, segundo Orígenes, vê-los sobreviver toda a noite e o dia seguinte.

(…)

Ele próprio dissera a seus apóstolos: “Minha alma esta até a morte”, expressão semita para designar uma “tristeza mortal”. Esta grave perturbação pode acarretar um fenômeno conhecido em medicina, do qual São Lucas, como médico, dá uma descrição perfeitamente clínica e surpreendente em sua brevidade. O fenômeno, aliás é a raro, é provocado por um grande abalo moral, seguido de profunda emoção e de grande medo.

(…)

Depois continua Lucas: (…) e, entrando em agonia, orava com mais instância. E o suor tornou-se como que gotas de sangue caindo até o solo” (Le 22.24). O texto grego, porém diz com mais exatidão: “Egéneto ho hidrós autou hosei thromboi haímatos katabaínontes epi en gen’. Ora, trombos” quer dizer “coágulo”.

O fenômeno, que em linguagem técnica chamamos “hematidrose, consiste em intensa vasodilatação dos capilares subcutâneos. Distendidos ao extremo, rompem-se em contato com milhões de glândulas sudoríparas espalhadas por toda a pele. Essa mesma vasodilatação provoca intensa secreção das glândulas sudoríparas. O sangue se mistura com o suor, e esta mescla poreja por toda a superfície do corpo. Mas, uma vez em contato com o ar, o sangue se coagula. Os coágulos assim formados sobre a pele caem por terra, levados pelo abundante suor. Pôde então escrever São Lucas, como bom médico e bom observador: “E seu suor tornou-se como que coágulos (não gotas) de sangue que caíam até o solo”.

Deste fenômeno podemos tirar logo duas consequências. A primeira é ter havido considerável diminuição da resistência vital após esta hemorragia, que é grave, dada a extensão da superfície em que se produz. Depois, assinalaremos como segunda consequência o estado anormal em que ficou a pele por ter sangrado na intimidade de suas glândulas sudoríparas, em toda a superfície do corpo. Ficou assim mais sensível, dolorida e, portanto, menos apta a suportar as violências e os golpes que iriam atingi-la na noite e no dia seguinte, até culminar com a flagelação e crucifixão.

(…)

Na mesma série de causas de enfraquecimento, devemos enumerar também as sevícias suportadas durante a noite, sobretudo entre os dois interrogatórios, durante os quais foi ele a presa e o escárnio de uma turba infame de criados do templo, “estes cães sanguinários”, como os chama são João Crisóstomo. Ainda devemos acrescentar os golpes recebidos no pretório, após a flagelação e a coroação de espinhos; tapas, socos e até pauladas, porque a palavra que São Jerônimo traduz por “alapas” (= tapas), significa também e, fundamentalmente, “golpes desferidos com um bastão ou pedaço de pau”.

(…)

Encontramos o vestígio dessas sevícias na Santa Mortalha, em uma grande contusão da face direita e uma fratura da borda cartilaginosa do nariz. Mas todas essas pancadas, desferidas principalmente sobre a cabeça, podiam ter produzido também um abalo, talvez grave, aquilo que chamamos de comoção ou ainda contusão cerebral, que se caracteriza pela ruptura mais ou menos extensa de pequenos vasos nas meninges e cérebro.

(…) pelos traumatismos que vamos encontrar no Santo Sudário, foi sobretudo a selvagem flagelação e a coroação de espinhos suportada no pretório de Pilatos, no “Lithróstotos”, que devem ter provocado a perda de sangue mais grave.

B) CAUSA DETERMINANTE

(…) Os crucificados morriam todos asfixiados. 

(…) a fixação dos braços levantados, portanto em posição de inspiração, acarreta relativa imobilidade das costelas e grande incômodo na respiração; o crucificado tem a impressão de sufocamento progressivo. (…) O coração deverá trabalhar mais, suas pulsações se precipitam e enfraquecem. Segue-se uma certa estagnação nos vasos de todo o corpo. E “como, por outro lado, a oxigenação se faz mal nos pulmões que funcionam insuficientemente, a sobrecarga de ácido carbônico provoca excitação das fibras musculares e, como consequência, uma espécie de estado tetânico de todo o corpo“.

(…)

A recordação de um suplício, ou de grave punição, como se quiser chamar, em uso no exército austro-alemão para o qual fora recrutado como tcheco, na guerra de 1914-1918. Este castigo que denomina “aufbinden”, e que os nazistas tiveram o cuidado de não esquecer, consiste em suspender, pelas mãos, o condenado, a um pelourinho. Seus pés apenas tocam o solo com as pontas dos dedos. Todo o peso do corpo, e isto é importante, fica apoiado nas duas mãos fixadas no alto. Vê-se, em pouco tempo, surgir contrações violentas em todos os músculos, que terminam em um estado permanente de contratura, de rigidez em contração, destes músculos. É o que se chama, vulgarmente, de cãibra. Todos sabem quanto são dolorosas e que não se pode aliviá-las a não ser puxando o membro no sentido oposto aos dos músculos contraídos.

Começam estas cãibras nos antebraços, passam para os braços, estendendo-se aos membros inferiores e ao tronco. Muito rapidamente os grandes músculos que produzem a inspiração, grandes peitorais, esternocleido-mastoideos e diafragma são também tornados. Daí resulta que os pulmões se enchem de ar, mas não conseguem fazê-lo sair. Os músculos expiradores, também eles contraídos, são mais fracos que os inspiradores (a expiração se faz ordinariamente e sem es forço muscular, pela elasticidade dos pulmões e da caixa torácica).

Estando assim os pulmões em inspiração forçada e não podendo esvaziar-se, segue-se que a oxigenação normal do sangue que neles circula não mais se pode fazer e que a asfixia se apodera do paciente, da mesma forma como se fosse estrangulado. Fica no estado de um enfisematoso em plena crise de asma. (…)

Notemos que, além disso, a falta de oxigenação do sangue pulmonar acarreta, nos músculos, onde continua a circular, uma asfixia local com consequente acumulação de ácido carbônico (segundo a exata observação de Le Bec), que, por uma espécie de círculo vicioso, aumenta progressivamente a tetanização destes mesmos músculos.

(…) A simples punição não podia, segundo o testemunho de Hynek, durar mais do que dez minutos, Mais tarde, nos campos de concentração nazistas, prolongaram-na até o assassinato.

(…)

Resulta deste testemunho, como também da observação, a Deus, menos prolongada de Hynek, que a suspensão pelas mis acarreta asfixia com contrações generalizadas, de acordo com as previsões de Le Bec. Os crucificados, pois, morriam todos de asfixia, após longo período de luta.

(…)

Depois da crucifixão, o corpo se abaixava e descia notavelmente, como o veremos, ao mesmo tempo que os joelhos se dobravam mais. O paciente podia então tomar ponto de apoio nos pés fixados à haste vertical da cruz, soerguer todo o corpo e reconduzir para a horizontal os braços que, em virtude do abaixamento, tinham um ângulo de 65° com a horizontal. Muito reduzida, desta forma, a tração sobre as mãos, diminuíam as cãibras e, momentaneamente, de saparecia a asfixia pela restituição dos movimentos respiratórios… Depois, sobrevindo a fadiga dos membros inferiores, era o crucifica do obrigado a ceder e a asfixia voltava de novo. Toda a agonia se passava na alternância de abatimentos e soerguimentos, de asfixia e de respiração. Disso temos a prova material no Santo Sudário, onde podemos assinalar um duplo fluxo de sangue vertical que sai da chaga da mão, com um afastamento angular de alguns graus. Um corresponde à posição de abaixamento, e o outro, à de soerguimento Dez (cf. fig. 20, adiante).

Percebe-se logo que um indivíduo esgotado como estava Jesus não haveria de poder prolongar essa luta por muito tempo. Por outro lado, quando julgasse, em sua suprema sabedoria, que chegara o momento de morrer, que “tudo estava consumado”, podê-lo-ia fazer com a máxima facilidade, interrompendo a luta.

(…) dispunham os carrascos de meio seguro para provocar morte quase instantânea nos crucificados: quebrar-lhes as pernas. Este processo, aliás muito usado em Roma, era bem conhecido. (…) Foi este “crurifragium” que os judeus, preocupados em fazer desaparecer os corpos antes do pôr do sol, foram pedir a Pilatos.

(…)

Os supliciados não podiam resistir à asfixia a não ser erguendo-se sobre os pés. Se lhes forem quebradas as pernas, ficarão absolutamente impossibilitados de se erguer. Então a asfixia os tomará completa e definitivamente, e a morte sobrevirá em espaço muito curto.

(…)

(…) a tetanização e a asfixia, indubitáveis para um médico, provam que as impressões do Sudário estão de acordo com a realidade: esse corpo morreu como um corpo crucificado.

Ali vemos, com efeito, os dois grandes peitorais, os mais poderosos músculos inspiradores, em contração forçada, dilatados e repuxados em direção das clavículas e braços. Toda a caixa torácica está muito distendida em inspiração máxima. A cavidade epigástrica (vulgarmente conhecida como boca do estômago) está retraída por esta elevação e distensão para a frente e para fora do tórax, e não pela contração do diafragma, como escreve Hynek.(…) Essa distensão e elevação força da das costelas não pode deixar de realçar a massa abdominal; é por isso que se vê, por cima das mãos cruzadas, sobressair o hipogástrio, o baixo ventre.

(…)

Os longos fluxos de sangue, que descem dos carpos aos cotovelos, parecem seguir os sulcos bem-marcados que separam os músculos extensores das mãos, em antebraços contraídos. As coxas mostram fortes saliências musculares que, em um corpo aliás perfeita mente desenhado, evocam também a contração tetânica.

Na face posterior, a coluna cervical parece bastante inclinada para a frente, contrariando sua curvatura normal, o que quadra coma imagem anterior.

(…)

Eis, pois, a meu ver, claramente elucidadas, sob o ângulo de visão humano, científico (pobre ciência que não passa de uma ignorância disfarçada!), as causas da morte de Jesus: a) Causas predisponentes que são múltiplas e o levaram fisicamente diminuído, e esgotado, ao mais terrível suplício que já conseguiu inventar a malícia dos homens; b) uma causa determinante, final, imediata: a asfixia, que causava infalivelmente a morte.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 81-95.

 

Sofrimentos Preliminares

“A) GENERALIDADES

(…) OS traumatismos produzem na pele lesões diversas, cujos vestígios no Santo Sudário diferem notavelmente segundo sua natureza profundidade.

(…)

B) SEVÍCIAS DA NOITE E DO PRETÓRIO

Sobre o rosto se encontram escoriações um pouco por toda a parte, mas sobretudo do lado direito, que está também deformado, como se, sob as esfoladuras sangrentas, houvesse também hematomas. As duas arcadas superciliares apresentar aquelas chagas contusas, que tão bem conhecemos, e que se fazem de dentro para fora, sob a influência de um soco ou paulada; os ossos da arcada cortar a pele pelo lado interno.

Mas a lesão mais evidente é uma grande escoriação de forma triangular na região suborbitária direita. A base tem dois centímetros, a ponta se dirige para cima e para dentro, para atingir outra zona escoriada no nariz entre o terço médio e o superior. Neste nível o nariz e está deformado por uma fratura da cartilagem dorsal, bem perto de sua inserção no osso nasal, que ficou intacto.

C) FLAGELAÇÃO

Já conhecemos o instrumento de suplício, o “flagrum” romano, cujas correias levavam a uma certa distância das pontas duas bolas de chumbo ou dois ossinhos, “talus” de carneiro. Seus vestígios se encontram com abundância no Sudário, e aparecem distribuídos por todo o corpo, das espáduas até as pernas. A maioria está na parte posterior, indício de que Jesus estava amarrado com o rosto contra a coluna e as mãos amarradas no alto, pois não ficaram vestígios nos antebraços, que de resto estão bem nítidos no Sudário. Não teriam deixado de receber alguns golpes se estivessem amarrados embaixo. Encontram-se também, e bem numerosos, sobre o peito.

Convém acrescentar que só deixaram marca de si os golpes que produziram escoriação ou chaga contusa. Todos os que não provocaram senão equimoses não deixaram vestígios na Mortalha. Contê-lo mais de 100, talvez 120, o que perfaz, se é que havia duas correia cerca de 60 golpes, sem contar os que não deixaram marca.

(…)

Estão quase todas dispostas em pares paralelos, o que faz supor duas correias em cada “flagrum”.

Acrescentaremos ainda que Jesus estava inteiramente nu, Pois vemos este tipo de chagas, em forma de haltere, em toda a região pelviana, tão profundas como no resto do corpo, o que não teria acontecido se estivesse coberta pelo “subligaculum”.

Por fim, notemos que os carrascos deviam ter sido dois e que eram de estatura diferente, uma vez que a obliquidade dos golpes no é a mesma dos dois lados.

D) COROAÇÃO DE ESPINHOS

Lucas não fala da coroação. Marcos escreve: “Peritithéasin autõ plléxantes akanthinon stéphanon – Cingiram-no com uma coroa de espinhos que tinham acabado de tecer” (15,17). Mas não indica com isto a forma; Mateus e João são mais explícitos: “Pléxantes stéphanon ex akathõn, epéthekan epi tês kephalês autou-Tendo tecido uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a cabeça dele” (27,29).

São Vicente de Lérins (Sermo in Parasceve) escreverá mais tarde: Impuseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, que era à maneira de ‘pileus’ (= carapuça, gorro), de sorte que por todos os lados lhe cobria e tocava a cabeça. E acrescenta que produzira essa carapuça 70 ferimentos. -O “pileus’ era, entre os romanos, uma espécie de gorro semioval, de feltro, que envolvia a cabeça e servia principalmente para o trabalho.

(…) a coroa era uma espécie de gorro, formado de ramos espinhosos entrelaçados, e não um anel.

Admite-se, geralmente, que pertencem a um arbusto de espinhos comum na Judeia, o Zizyphus Spina Christi”, uma espécie de açofeifeira (árvore da família das ramnáceas, também conhecida por jujubeira). (…) O couro cabeludo sangra muito e com facilidade; como este chapéu foi enterrado a pauladas, os ferimentos produzidos devem ter feito correr bastante sangue.

(…) Ora essa coroa não tem espinhos, é um simples círculo de juncos trançados. Mas tudo se explica perfeitamente, pois foi com esses juncos que os soldados, depois de terem aplicado o chapéu de espinhos na cabeça de Jesus, o fixaram, apertando-o na frente e na nuca.

(…)

O sangue foi obrigado a se acumular aí, lentamente, onde se pôde coagular com todo vagar, de onde a extensão em largura, o crescimento em altura e o aumento em espessura do coágulo.

Há ali um obstáculo, que está evidentemente na região onde o feixe de juncos cingia a parte inferior da testa, por cima das arcadas das sobrancelhas. Uma das hastes de junco estava transversalmente comprimida sobre a pele da testa: há ali faixa horizontal, sem coágulos, em toda a extensão da testa; à direita e à esquerda para os = lados, dois coágulos se detêm, nitidamente, no mesmo nível e bem se pode seguir em seu conjunto o trajeto da faixa.”

BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo, segundo o cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 2014, pág. 97-103.