O prazer de matar

“Note-se que os povos primitivos ainda existentes na Terra, mais próximos do que nós do homem primordial, se comportam neste ponto de modo muito diferente ou se comportaram, enquanto não sofreram a influência da nossa cultura. O selvagem – australiano, bosquímane ou o habitante da Terra do Fogo não é nenhum assassino sem remorsos; quando regressa vencedor da luta não lhe é lícito pisar a sua aldeia nem tocar na sua mulher, antes de ter resgatado os seus homicídios guerreiros com penitências, por vezes, longas e penosas. Naturalmente, a explicação desta superstição é evidente; o selvagem teme ainda a vingança dos espíritos dos mortos. Mas os espíritos dos inimigos chacinados são apenas a expressão da sua má consciência por causa dos seus homicídios; por trás desta superstição oculta-se um fragmento de sensibilidade ética que nós, homens civilizados, perdemos.

Uma proibição tão forte só pode elevar-se contra um impulso igualmente poderoso. O que nenhuma alma humana deseja não precisa de ser proibido, exclui-se por si mesmo. A acentuação do mandamento «Não matarás!>> garante-nos justamente que descendemos de uma longuíssima série de gerações de assassinos, que tinham no sangue o prazer de matar, como talvez ainda nós próprios.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág. 46-47.

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