“DIZEM QUE Jesus de Nazaré era humilde e manso. Dizem que, embora justo e reto, era homem tímido, e foi confundido muitas vezes pelos fortes e poderosos; e que, quando se achava diante de homens de autoridade, não passava de um cordeiro entre leões.
Mas eu digo que Jesus tinha autoridade sobre os homens e que conhecia Seu poder e o proclamava entre as colinas da Galileia e nas cidades da Judéia e da Fenícia. Que homem condescendente e brando diria: “Eu sou á vida, eu sou o caminho para a verdade“?
Que homem manso e humilde diria: “Eu estou em Deus, nosso Pai; e nosso Deus, o Pai, está em mim“? Que homem inseguro de sua própria força diria: “Quem não acredita em mim não acredita nesta vida nem na vida sem piterna”?
Que homem incerto do amanhã proclamaria: “Vosso mundo passará e se converterá em cinzas esparsas antes que passem minhas palavras”? Duvidava Ele de si mesmo quando disse àqueles que tentavam embaraçá-lo com uma prostituta: “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra“?
Temeu a autoridade quando lançou os cambistas para fora do átrio do templo, embora fossem licenciados pelos sacerdotes?
Estavam Suas asas aparadas quando gritou bem alto:
“Meu reino está acima de vossos reinos terrenos”? Estava procurando abrigo em palavras quando repetiu e tornou a repetir: “Destruí este templo, e eu o reconstruirei em três dias”?
Era um covarde quem sacudiu o punho à face das autoridades e chamou-lhes “mentirosas, vis, corruptas e degeneradas”?
Um homem bastante ousado para dizer essas coisas àqueles que governavam a Judéia poderia ser considerado manso e humilde? Não. A águia não constrói seu ninho no salgueiro-chorão. E o leão não busca sua caverna entre as samambaias. Sinto-me mal e minhas entranhas agitam-se e revoltam se dentro de mim quando ouço os débeis de coração chamarem Jesus humilde e manso, para assim justificarem sua própria debilidade; e quando os calcados aos pés, para seu consolo e conforto, falam de Jesus como de um verme brilhando a seu lado.
Sim, meu coração fica doente com tais homens. Pois o que eu prego é o caçador poderoso e o espírito invencível das alturas!.”
GIBRAN, Gibran Khalil. Jesus, o Filho do Homem. Tradução: Mansour Challita. Associação Cultural Internacional Gibran, 1973, pág. 53-54.