O estranho e do outro é eliminado

“Estende-se hoje, pelo mundo, redes digitais, que não permitem nada senão o espírito subjetivo. Surgiu, assim, um campo de visão familiar, do qual toda negatividade do estranho e do outro é eliminado, uma câmara de eco digital, na qual o espírito subjetivo se confronta apenas consigo mesmo. Ele cobre, por assim dizer, o mundo com a sua própria retina.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 981.

Linguagem do outro

Paranoia

“Faz parte do conjunto de sintomas da paranoia que se imagine olhares, por todos os lados se sinta visto de todos os lugares. Nisso, ela se distingue da depressão. A paranoia não é uma doença predominante hoje. Ela está vinculada à negatividade do outro. Quem é depressivo habita um espaço sem olhar, no qual nenhuma experiência do outro é possível.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 756.

Olhar

A negatividade é vivificante

“Justamente a negatividade é vivificante. Ela nutre a vida do espírito. O espírito obtém a sua verdade apenas ao encontrar a si mesmo na absoluta rasgadura. Apenas a negatividade do rasgo e da dor mantém o espírito vivo. O espírito é “esse poder”, “não como o positivo que olha para longe do negativo”. Ele é “esse poder apenas ao olhar o negativo nos olhos e se demorar nele”. Hoje, fugimos desesperadamente do negativo, em vez de nos demorarmos nele. O aferrar-se ao positivo reproduz, porém, apenas o igual.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 481.

Angústia

A negatividade do outro

“A negatividade do outro e da metamorfose [Verwandlung] constitui a experiência em sentido enfático. Ter uma experiência significa “que ela sucede conosco, que ela nos atinge, abate-se sobre nós, nos derruba e nos transforma”. A sua essência é a dor. O igual, porém, não dói. A dor dá lugar, hoje, ao “curtir”, que propaga o igual.

A informação está simplesmente disponível. O saber no sentido enfático, em contrapartida, é um processo mais lento, mais longo. Ele aponta para uma outra temporalidade. Ele amadurece.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 73-76.

Terror do igual

O infarto

“O infarto, em contrapartida, vem do excesso do igual, da obesidade do sistema. Ele não é infeccioso, mas adiposo. Não se formam anticorpos contra a gordura. Nenhuma defesa imunológica pode impedir a proliferação do igual.

A negatividade do outro dá figura e medida ao mesmo. Sem ela, se chega à proliferação do igual.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 53-55.

Terror do igual

Depressão destrutiva

“O tempo no qual havia o outro passou. Desaparece o outro como mistério, o outro como sedução, o outro como Eros, o outro como desejo, o outro como inferno, o outro como dor. A negatividade do outro dá lugar, hoje, à positividade do igual. A proliferação do igual constitui as transformações patológicas que afligem o corpo social. Não privação e proibição, mas sobrecomunicação e sobreconsumo, não repressão e negação, mas permissividade e afirmação o adoecem.Não a repressão, mas a depressão é o patológico sinal dos tempos de hoje. A depressão destrutiva não vem do outro, mas de dentro.

A depressão como pressão interna desenvolve traços agressivos. O sujeito de desempenho depressivo é, por assim dizer, morto à pancada ou sufocado pelo si. Não é apenas a violência do outro que é destrutiva. A expulsão do outro põe em curso um processo de destruição inteiramente diferente; a saber, a autodestruição.

A partir de um determinado ponto, porém, a produção não é mais produtiva, mas destrutiva; a informação não é mais informativa, mas deformadora; a comunicação não é mais comunicativa, mas meramente cumulativa.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 36-46.

Terror do igual

A vida do sobreviver

“A vida hoje se transformou num sobreviver. A vida enquanto um sobreviver acaba levando à histeria da saúde. A pessoa sadia irradia paradoxalmente um quê de morbido, algo de sem-vida. Sem a negatividade da morte a vida enrijece em morte. A negatividade é a força vital da vida.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 967.

Anexos: Tempo de celebração-a festa numa época sem celebração

Ausência da negatividade

“A crescente positivação da sociedade enfraquece também sentimentos como angústia e luto, que radicam numa negatividade, ou seja, são sentimentos negativos. Se o pensamento mesmo fosse uma “rede de anticorpos e de proteção imunológica natural”, a ausência da negatividade transformaria o pensamento num cálculo.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 445.

5| Pedagogia do ver

Violência neuronal

“Assim, a violência neuronal, ao contrário, escapa a toda ótica imunológica, pois não tem negatividade. A violência da positividade não é privativa, mas saturante; não excludente, mas exaustiva. Por isso é inacessível a uma percepção direta.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 135.

1 | A violência Neuronal